Dentro daquelas coisas que não existem, ou que estão sempre em crise, ou que não funcionam, ou acerca das quais constantemente se inventam bodes expiatórios para tentar arranjar falsas explicações para o retorcido do mundo…, o ordenamento do território é uma delas.
O território é um produto social, como se sabe, em constante mudança como é próprio das sociedades. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, como Camões cantava, e por isso mudará constantemente aquilo que se pensa que o território é.
Sendo o ordenamento uma amálgama de legislação sobre tudo e mais alguma coisa cada qual justificada de sua maneira, como esperar que alguma vez tal ensarilhada pudesse dar certo?
Façamos de conta que funciona, portanto, parecerá que tudo vai bem, devidamente adjectivado como é próprio da retórica normativa com défice de clareza nos seus enunciados e receituários; articulado, integrado, sustentável, resiliente e outras coisas sem sentido por se lhes aplicarem uma infinidade deles, são alguns atributos do ordenamento, indispensáveis ao seu papel de regulador social produtor de consensos sobre generalidades vagas. Continuemos.
Álvaro Domingues, licenciado em geografia, doutorado em Geografia Humana e professor e investigador na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
