Vereador Manuel Salgado: «É preciso repovoar Lisboa»

Entrevista

21.03.2014

Nos anos 70 Lisboa chegou a ter 800 mil habitantes. Actualmente tem 545 mil. Até 2011 a cidade perdeu 100 mil habitantes por década e a tendência só começou a abrandar nos últimos dez anos. «Isto mostra que é indispensável tomar medidas para repovoar a cidade, que só será sustentável que tiver mais gente a viver e a trabalhar. Isso implica reabilitar muito do que está estragado», defende o vereador da Reabilitação Urbana da Câmara Municipal de Lisboa, Manuel Salgado, em entrevista ao Jornal Arquitecturas em plena Semana da Reabilitação Urbana, que arrancou a 19 de Março e se prolonga até dia 26.

 

A reabilitação urbana é uma prioridade do executivo que quer trazer mais pessoas à cidade. Como é que a câmara pensa atraí-las? Isto porque continuam a faltar infra-estruturas, como estacionamento e parques infantis…

 

Há dois tipos de actuações diferentes. Uma mais ligeira, que tem que ver com equipamentos, parques infantis e com a qualidade do espaço público. A outra é uma questão de fundo e prende-se com a oferta de habitação a preços que sejam acessíveis às famílias. O que sucede em Lisboa é que a habitação é muito mais cara do que nos concelhos limítrofes. Mesmo os jovens residentes em Lisboa, quando constituem família, mais facilmente encontram casa lá fora do que cá dentro. Nós temos que ter políticas públicas que incentivem a produção de habitação para arrendamento e a preço que as pessoas possam pagar.

 

Até porque, como frisou no seu discurso da Semana da Reabilitação Urbana, há pessoas pobres e a viver sem condições em Lisboa.

Se passear pela parte alta da Mouraria, por Alfama, em determinadas bolsas junto ao Hospital de São José ou na Madragoa repara que as casas são muito pequenas, as pessoas são pobres e muitas das casas não têm o mínimo de condições de habitabilidade. Isso obriga a operações de regeneração urbana para recuperar esses bairros e criar condições para as pessoas que lá estão vivam melhor e, ao mesmo tempo, para que os jovens lá se possam fixar.

 

Referiu também que a reabilitação de Lisboa custará oito mil milhões de euros…

Se fizermos as contas ao doze mil edifícios que estão em mau estado ou ruínas, calcularmos a área e lhe atribuirmos o valor das obras de reabilitação – e nós temos esses valores bastante apurados porque temos muitas obras em curso – chegamos a essa ordem de grandeza.

 

É possível pensar nessa utopia que é a reabilitação de Lisboa?

Acho que não é uma utopia. É uma necessidade. Durante muitos anos, e as pessoas não têm noção disso, os investimentos que se fizeram em construção nova, mesmo na cidade de Lisboa, foram loucuras. Se se fizer a conta ao metro quadrado daquilo que está construído – pensemos por exemplo no Parque das Nações - chegamos a um valor absolutamente astronómico.

 

Até se torna mais acessível reabilitar.

É um valor equivalente. Um mercado imobiliário a funcionar em condições normais tem capacidade para reabilitar uma cidade como Lisboa. Pode demorar dez anos, quinze ou vinte. Depende do financiamento que for feito. O que existe neste momento é um estrangulamento total ao financiamento.

 

Os programas que a câmara tem lançado, como o «Reabilita primeiro paga depois», são suficientes para alavancar a reabilitação?

Não, de todo. O que se fez foi colocar no mercado 52 imóveis. São imóveis relativamente pequenos e isso é uma gota de água quando há 12 mil que estão em mau estado ou ruína.

 

Estão previstas a curto prazo outras iniciativas do género?

Estamos esperançados, cada vez menos, aliás, de que os fundos europeus do quadro comunitário 2014-2020 tenham verbas, tipo Fundo Jessica, para financiar os privados na reabilitação. Infelizmente não temos a certeza de que isso venha a suceder e os sinais não são muito encorajadores.

 

Ana Santiago 

TAGS: Vereador da Reabilitação Urbana da Câmara Municipal de Lisboa , Manuel Salgado , regeneração urbana
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