Opinião João de Jesus Ferreira:"Projectar cidades sustentáveis e eficientes"

25.11.2015

A importância de um Plano Energético Director

 

A energia desempenha um papel fundamental em todas as actividades, nomeadamente nas actividades económicas, e no seu desenvolvimento.

Durante muito tempo pensou-se que o crescimento, progresso e desenvolvimento socio-económico não podiam ser conseguidos senão à custa de forte crescimento do consumo de energia.

 

Quando da crise de 1973, a necessidade de reduzir os enormes consumos chegou a conduzir a fortes constrangimentos com consequências negativas sobre o desenvolvimento. Ainda sobre a influência da vivência anterior, chegou a pensar-se que, como não era possível crescer sem continuar a pagar uma elevada factura energética, se tornava necessário rever os modelos de crescimento.

 

No entanto, a pouco e pouco, foi-se aprendendo a olhar para a energia como um factor de produção que, sendo bem gerido, permite produzir o mesmo consumindo menos. O resultado foi ter-se conseguido dissociar o crescimento socio-económico do aumento do consumo de energia.

 

O crescimento económico e a melhoria da qualidade de vida são assim possíveis, recuperando uma perspectiva de desenvolvimento fundamental para toda a humanidade, sem que isso implique custos demasiado elevados nem a pura e simples exaustão de recursos finitos.

 

As novas cidades podem evoluir nesta matéria e aproximar o seu desenvolvimento do de regiões caracterizadas por uma maior eficácia na utilização da energia. Para isso é necessária uma alteração de mentalidades e de comportamentos que absorvam conceitos adequados.

 

  • A energia deve ser considerada como um factor de produção tão importante como o trabalho, o capital e as matérias-primas.
  • Por isso, gerir a energia é tão importante como gerir recursos humanos ou financeiros.
  • A gestão e o planeamento energético devem começar logo na fase de projecto das instalações ou empreendimentos, com a opção racional sobre a forma de energia a consumir e a selecção dos meios de produção que apresentam a maior eficácia energética. No entanto, isto não quer dizer que as acções de gestão energética fiquem por aqui ou que não tenham que ser realizadas em instalações já existentes. A gestão da energia é um processo continuado e indispensável.
  • A gestão da energia deve assentar no conhecimento dos sistemas consumidores, através da elaboração de auditorias energéticas periódicas e na consequente elaboração de programas de actuação e de investimento nesta área, a fim de reduzir os consumos e/ou efectuar substituições de energia.
  • A gestão de energia deverá conduzir, de forma contínua, à utilização cada vez mais racional de energia.

 

Neste contexto, é desejável que todos os agentes económicos promovam, de forma voluntária, a limitação da procura de energia, impedindo assim o prosseguimento sobre a via da inflação energética.

 

A valorização das economias de energia, resultantes da gestão e do planeamento energético, conduz a benefícios que se podem repercutir, de forma global, a nível nacional e, de forma directa e imediata, a nível do consumidor com as seguintes vantagens entre outras:

 

  • Aumento da eficácia do sistema energético;
  • Redução das emissões poluentes (CO2);
  • Redução da factura energética;
  • Acréscimo de produtividade da empresa (e nos benefícios de exploração) em quaisquer sectores de actividade;
  • Aumento da competitividade no mercado interno e externo ou aumento de disponibilidades financeiras para outros fins;
  • Conhecimento mais profundo das instalações e do custo energético de cada fase, processo ou sistema.

 

A concepção de um Plano Geral de Ordenamento para uma região ou cidade é exemplo de uma situação em que a necessidade de proceder a um planeamento integrado dos recursos energéticos é óbvia. Nesta perspectiva, torna-se evidente a necessidade de proceder a um plano energético director que permita definir as formas de energia final mais convenientes para a satisfação das necessidades em energia útil bem como definir os meios mais adequados para o fornecimento daquelas formas de energia final.

 

A forma mais conveniente para atingir estes objectivos consiste no estabelecimento de interligações entre a procura e a oferta de energia, condicionando a procura à utilização de tecnologias (e de soluções técnicas) mais eficientes, minimizando as necessidades de energia final para a produção das mesmas quantidades (optimizadas) de energia útil e disponibilizando as formas de energia final que melhor se adaptem aos condicionantes económicos e à salvaguarda do meio ambiente.

 

Na análise a desenvolver, no âmbito dum plano energético director, deverão estar presentes e integrados os conceitos que se atribuem à Produção e Utilização Racionais e Eficientes da Energia.

 

Os objectivos dum Plano Energético Director são:

 

  • 1.  Estabelecer possíveis cenários de procura de energia útil, desagregados por utilizações finais;

 

  • 2.   Estabelecer possíveis cenários de procura de energia final, desagregados por formas de energia;

 

  • 3.   Elaborar um inventário preliminar das formas de energia final potencialmente utilizáveis, tendo em consideração as tecnologias convencionais e as tecnologias alternativas;

 

  • 4.   Desenvolver a matriz energética para o empreendimento em função de uma visão de optimização energética e do aproveitamento dos recursos endógenos;

 

  • 5.  Avaliar previamente os parâmetros que permitam vir a determinar a viabilidade técnico-económica de sistemas centralizados de produção de energia térmica ou de produção de energia eléctrica e de energia térmica, tendo em consideração o aproveitamento de fontes de energia endógenas, como é o caso dos bio-combustíveis, resíduos sólidos urbanos ou efluentes das aguas residuais;

 

  • 6.   Avaliar previamente os parâmetros que permitam vir a determinar as vantagens na utilização de tecnologias solares activas, como sejam o solar térmico de baixa temperatura e o solar fotovoltaico;

 

  • 7.   Estabelecer exigências de utilização racional e eficiente da energia para todos os equipamentos a construir na área geográfica do empreendimento.

 

  • 8.   Estabelecer as regras para a atribuição de um certificado energético, para todos os equipamentos a construir na área geográfica do empreendimento 

 

 

 

João de Jesus Ferreira é engenheiro electrotécnico (IST), mestrado em Política, Economia e Planeamento de Energia (ISEG/IST), é administrador do grupo Vivapower e CTO (Chief Technology Officer) da Vivapower Selfenergy

TAGS: opinião , João de Jesus Ferreira , cidades sustentáveis e eficientes
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