Opinião Armando Silva Afonso:"Adaptis"

23.11.2015

O Programa AdaPT foi desenvolvido para apoiar financeiramente Portugal na atuação em matéria de adaptação às alterações climáticas, com base num Memorando de Entendimento entre Portugal, Noruega, Islândia e Liechtenstein. Este programa engloba diversos projetos setoriais, inseridos na Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas (ENAAC), para suporte ao desenvolvimento de estudos e à implementação de medidas identificadas como relevantes neste âmbito.

 

Um dos projetos setoriais selecionados pelo programa AdaPT foi proposto pelo ITeCons (Instituto de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico em Ciências da Construção da Universidade de Coimbra), em parceria com a ANQIP (Associação Nacional para a Qualidade nas Instalações Prediais), visando o “desenvolvimento de uma rede de conhecimento e experiência com vista ao diagnóstico, estudo e à consequente adoção de medidas de adaptação às alterações climáticas em edifícios do setor industrial e dos serviços”.

Este projeto, designado por “adaptIS - Plataforma colaborativa para adoção de medidas de adaptação às alterações climáticas no setor industrial e dos serviços", envolve diagnósticos e ações de campo, nomeadamente visitas, auditorias e peritagens técnicas, com vista a recolher informação que sirva de base ao desenvolvimento de ferramentas de apoio e ao estabelecimento de medidas de adaptação às alterações climáticas na indústria e nos serviços, com enfoque no edifício e respetivas envolventes.

 

Estes conteúdos serão disponibilizados numa plataforma específica na internet, com o objetivo de sensibilizar o sector para a necessidade de proceder à avaliação de riscos e vulnerabilidades associadas a fenómenos climáticos extremos e de adotar medidas de adaptação, apoiadas na transferência de tecnologia e na partilha de conhecimento.

Na fase de diagnóstico já realizada, 80% das entidades que responderam a um inquérito lançado pelo projeto reconheceram que a sua atividade já foi afetada por ações climáticas extremas. Nesse diagnóstico, cerca de 25% das entidades consultadas referiram as ondas de calor e a decorrente escassez de água (seca prolongada) como um problema preocupante, tendo algumas delas desenvolvido já medidas visando o aumento na eficiência do uso da água nas suas instalações.

 

No âmbito do “consórcio” AdaptIS, cabe à ANQIP o desenvolvimento de ferramentas que contribuam para a adaptação e aumento da resiliência dos edifícios industriais e de serviços face a fenómenos extremos relacionados com a água, como sejam precipitações intensas (inundações) e secas prolongadas (escassez de água). Neste último caso, a eficiência hídrica, entendida não só na perspectiva da redução de consumos, mas também na perspectiva do aproveitamento de fontes alternativas, como as águas pluviais, ou da reutilização de águas residuais, é, evidentemente, a resposta adequada.

 

O projeto AdaptIs pode traduzir-se um estímulo significativo para despertar a indústria e os serviços, incluindo o sector público, para a necessidade de adoptarem medidas de adaptação e de aumento da resiliência, como resposta aos previsíveis impactes das alterações climáticas em Portugal, fornecendo simultaneamente ferramentas apropriadas para a implementação dessas medidas e estabelecendo uma plataforma que permite o conhecimento de boas práticas e a troca de experiências neste âmbito. Sendo uma “plataforma colaborativa”, o seu sucesso dependerá, naturalmente, do envolvimento e colaboração dos sectores interessados.

 

Armando Silva Afonso é professor da Universidade de Aveiro e fundador e atual presidente da direção da ANQIP (Associação Nacional para a Qualidade nas Instalações Prediais)

TAGS: opinião , Armando Silva Afonso , Adaptis
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