Verão chegado, exames terminados, férias de agosto ditadas pelos calendários académicos e este ano aparentemente tempo quente, é altura de ultimar a programação das ditas, para quem não o fez já atempadamente ou ainda tem espaços por preencher na agenda do descanso, recreio e lazer.
Deseja-se a todos os que o podem fazer o devido retemperar de energias, de preferência com quebra das rotinas, boa mesa e boa paisagem, naturalmente rodeado daquele círculo restrito que são os que mais nos dizem.
Claro que não há férias sem que alguma tarefa inacabada oportunamente reivindique o seu espaço. Aquele livro que olha para nós há alguns meses e em relação ao qual estamos em falta; alguns assuntos que merecem uma ponderação mais amadurecida, a que as correrias de todo o ano não deixaram espaço; a tarefa que há tempo demais se arrasta e que nalguns intervalos vamos tentar pôr em dia; ou o necessário apoio a alguma colega que este ano não tem férias porque nos está a cobrir na empresa ou está a acabar o doutoramento, para entregar em setembro.
Com boa vontade, são os TPC’s que a profissão nos reserva para o verão.
O que o leitor não programou foi que o Território também lhe prescreveu uma lista de TPC’s. Silencioso, independentemente do som ou do ruído que cada paisagem se faz acompanhar; implacável para quem muda de geografia como forma de quebrar a rotina casa-trabalho(s) – sim, para muitos cada vez mais no plural; incontornável, pois entra-nos pelos sentidos sem que nada façamos para tal, pois a isso nos predispusemos quando decidimos quebrar a nossa relação do dia-a-dia e escolher a(s) paisagem(ens) onde nos queremos sentir bem.
Sem que disso tenha consciência plena, o leitor vai testemunhar resultados da política para o litoral. Vai comer um gelado num apoio de praia previsto num POOC (plano de ordenamento da orla costeira), que com a nova Lei de Bases passou a POC (programa da orla costeira). Vai ver in loco a política de conservação da natureza. Vai fazer turismo num plano de pormenor de um NDT (núcleo de desenvolvimento turístico) do PROT-Algarve. Vai passear numa rua comercial renovada. Sentar-se num parque urbano do Programa Polis. Contemplar edifícios históricos atempadamente renovados com o apoio do extinto Recria.
Não querendo ser exaustivo, vai chocar de frente com o output de décadas de políticas públicas de ordenamento do território, que lhe entram pela janela do carro, pelo terraço de casa, pela envolvente da esplanada, pelas redes de equipamentos de utilização coletiva mais ou menos eficientes a que vai recorrer, pelos sistemas de infraestrutura mais ou menos eficientes que vai usar, de todo o tipo, das acessibilidades ao abastecimento de água.
Caro leitor, o território é o reflexo da nossa sociedade, é o retrato daquilo que coletivamente nós somos. E, queira ou não queira, o seu TPC nas férias é observar tudo o que o rodeia.
João Pedro Costa é o diretor do Jornal Arquitecturas.