Apesar de ser essencial à vida, a água não é um tema habitualmente abordado pelos poetas… No entanto, dois grandes poetas portugueses escreveram poemas dedicados à água: Bocage e Miguel Torga.
Como não tenho coragem de transcrever neste Comentário o poema de Bocage, vou apenas recordar a ode “À água”, de Miguel Torga:
Ninguém ouve a canção, mas o ribeiro canta!
Canta, porque um alegre deus o acompanha!
Quantos mais tombos, mais a voz levanta!
Canta, porque vem limpo da montanha!
Espelho do céu, é quanto mais partido
Que mais imagens tem da grande altura.
E quebra-se a cantar, enternecido
De regar a paisagem de frescura.
Água impoluta da nascente,
És a pura poesia
Que se dá de presente
Às arestas da humana penedia...
Armando Silva Afonso é professor da Universidade de Aveiro e fundador e atual presidente da direção da ANQIP (Associação Nacional para a Qualidade nas Instalações Prediais).