«O veículo eléctrico vai generalizar-se como o computador e o telemóvel»

26.08.2013

Durante o último ano uma equipa da Câmara Municipal de Lisboa, com a colaboração de diversas instituições, pensou a cidade no quadro do próximo período de programação comunitário. Lisboa quer ser a cidade do mar e da interculturalidade, mas também quer afirmar-se como cidade acessível. O Jornal Arquitecturas* falou com a coordenadora da equipa de missão Lisboa/ Europa 2020, Teresa Almeida, sobre as formas de mobilidade suave na cidade. A responsável é uma das oradoras da Conferência da Mobilidade Urbana, organizada pelo Jornal Arquitecturas, que se realiza a 17 de Setembro no MUDE, em Lisboa.

Que medidas podem ser tomadas para incentivar o uso de bicicletas na cidade?

As medidas que se destinam a alterar paradigmas de mobilidade não podem ser impostas de forma brusca. É preciso criar as condições e depois dar tempo aos cidadãos para que percebam as vantagens e se adaptem. É preciso induzir a que a mobilidade seja feita de outra forma. Por exemplo, o novo plano director já perspectiva a mobilidade de forma diferente. Antigamente quando se construía um novo edifício tinha que assegurar-se determinado número de lugares de estacionamento. Actualmente isso desincentiva-se. A ideia é levar as pessoas a usar mais os transportes públicos ou transportes individuais menos poluentes.

Por que é que ainda não vemos muitas pessoas de bicicleta?

É sobretudo uma questão de mentalidade. As pessoas habituaram-se ao conforto do veículo. Para repensarem as suas formas de mobilidade têm que ter estímulos. O aumento do custo dos combustíveis pode ajudar. Quando se criam zonas onde os veículos só podem andar a 30 quilómetros por hora está a dizer-se que o automóvel já não é a forma de mobilidade privilegiada. Passa a haver respeito pelo peão, logo, por todas as outras formas de locomoção. A restrição ao estacionamento é outra medida que concorre para que o cidadão faça uma reflexão sobre as alternativas que tem e se podem ser compatíveis com a ida para o emprego, com as crianças que têm que ir para escola ou com a necessidade de ir ao supermercado.

A bicicleta não é a forma mais eficaz para levar as crianças à escola…

E porque não tentar encontrar um lugar no infantário perto de casa e não perto do emprego? Há uns anos privilegiou-se uma outra forma de pensar. Arranjavam-se os infantários perto do emprego. Agora pode pensar-se de forma diferente. Se a mudança não for feita nesse ano pode ser feita no ano lectivo seguinte. Em Lisboa há equipamentos educativos junto das zonas residenciais. Uma das apostas deste executivo passa por conseguir que as pessoas voltem a procurar as zonas centrais e históricas para residir ficando mais perto do seu local de emprego.

Quanto tempo faltará até que as pessoas comecem a ir de bicicleta para o trabalho?

Acho que isso neste momento já é um facto. O edifício dos serviços da Câmara de Lisboa no Campo Grande tem lugares para bicicleta para os seus funcionários que vão sendo cada vez mais ocupados. O que quer dizer que há pessoas que já utilizam esta forma de deslocação.

No que diz respeito à mobilidade eléctrica os objectivos estão muito aquém daquilo que estava previsto.

A Câmara Municipal de Lisboa fez um grande investimento na aquisição de veículos eléctricos e a cidade tem mais de 500 postos públicos de carregamento. Foi a forma de mostrar a sua disponibilidade para acolher o veículo eléctrico. O que se espera é que o mercado crie as condições para que as pessoas possam adquirir os veículos. As restrições às emissões de gases vão ser cada vez maiores. As pessoas serão confrontadas com restrições à circulação, como acontece na Avenida da liberdade, face aos picos de poluição incompatíveis com as normas europeias. Se a qualidade do ar melhorar, por via da utilização de veículos menos poluentes, poderemos voltar a circular nesses locais.

O grande entrave, no que diz respeito aos veículos eléctricos, continua a ser a questão financeira?

Ainda é um produto muito caro mas a indústria tem que o tornar mais barato. Quando apareceram, os computadores e os telemóveis eram extremamente caros. Só alguns conseguiam tê-los. Vulgarizaram-se e hoje são acessíveis. Acredito que o processo do veículo eléctrico será idêntico. A cidade já deu os sinais. Se a procura estimula a oferta, Lisboa pôs a oferta à frente da procura. 

Redacção Jornal Arquitecturas 

*Entrevista completa na edição em papel do Jornal Arquitecturas

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